quarta-feira, 10 de dezembro de 2014
Dom ou Disciplina?
Devoção é dom e graça, porque não há nada que possamos fazer para que Deus se relacione conosco. É unicamente fruto de seu amor que o leva a buscar o homem (1 Jo 4.19). Por outro lado, é disciplina, porque requer de nós disponibilidade para o encontro, prática exterior que o possibilite e prontidão para o aprendizado.
A graça é essencialmente “vida” que cresce e se movimenta, dando à alma capacidade de reagir dinamicamente aos dons de Deus, de mover-se em direção a ele, de amá-lo e conhecê-lo. É uma “potência” que opera na natureza humana, conquistando as zonas mais interiores do homem, dominando as tendências egoístas até que pertençamos a Deus por inteiro. Se essa graça, que é “potência viva”, deixar de mover-se e expandir-se, tomaremos o caminho inverso da atrofia e da morte.
Se nos relacionamos pouco com o Senhor, se oramos, lemos e meditamos pouco, nosso interior torna-se endurecido, e a alma, ressequida como terra sem chuva. Por isso, muitos de nós, mesmo tendo nascido de novo e recebido o Espírito Santo, permanecem estagnados na caminhada rumo à vida mais excelente, com um vago sentimento de insatisfação, um desejo indefinido por “coisas espirituais” e um estado de resignação e nostalgia que nos impede de andar mais rápida e prontamente no caminho do Espírito.
Contrário a isso, quanto mais nos aproximamos de Deus, mais queremos nos aproximar. Quanto mais oramos, mais queremos orar. Quanto mais experimentamos as graças e as delícias indeléveis do Espírito, mais queremos experimentar. Segundo o pensamento de Agostinho, “O homem é uma seta disparada para um universo (DEUS) cujo centro de gravidade exerce uma atração irresistível, e quanto mais se aproxima do centro, maior velocidade adquire”. Portanto, a atração por Deus tem proporção direta com a proximidade a ele.
Como propõe Inácio de Loyola, existe a lei do treinamento para tudo na vida – profissão, esportes, artes. Talvez, tenhamos capacidades atléticas adormecidas que, com treino, possam ser despertadas. Você conseguiria caminhar 30 km hoje? E com treino diário, isso seria possível? Assim também Deus colocou, no homem, uma capacidade de relacionamento com ele – porque nos fez à sua imagem e semelhança – e uma aspiração profunda e filial que nos faz suspirar pelo Pai (Rm 8.15; Gl 4.6).
Devoção é, portanto, uma graça recebida e uma disciplina a ser desenvolvida. Mesmo sendo graça e disciplina, é um processo lento e evolutivo como todas as experiências espirituais em nossa vida. É um aprendizado que dura a vida inteira. Não cabe num molde, mas é uma experiência pessoal, espontânea e transformadora.
Por: Rosana Farias
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